Asas foram concedidas por Deus para que os seres que as possuem voem para a liberdade. As minhas asas foram concedidas pela magnitude esplêndida da literatura, em busca da supra realidade. -Karina L.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Inquieto Adágio.

Cedo jazem as cinzas que me atormentam. O sentimento mais límpido e egocêntrico se aflora sob a superfície de minha pele. E o lamento, lamento profundo fulguras do âmago de minha alma. Perguntes, é exagero? Creio que não, conquanto permita culpar a nostalgia, tais sentimentos que se ocultavam pelas sobras do passado, por que agora vieste perturbar-me?
E a melodia? Tal melodia insiste em cobrar-me minha inquietação e pairar sob minha cabeça. Não respiro, não faço pausas, apenas medito por tal existência. Não necessito voltar ao passado, contudo, ele persiste vir até mim.
Não pretendo me orgulhar de tais sentimentos, pois minha alma está feliz. Tal amor, tal alegria, não poderia permitir se influenciar por simples nostalgia. Esquecer, devo apenas esquecer!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Lucidezes - CONTO

As luzes piscavam com intervalo de segundos simultaneamente, fazendo-o lembrar da maravilhosa Las Vegas vista em filmes hollywoodianos.
Aproximou-se do pinheiro artificial que fora montado no hall. O reflexo da bola vermelha reluzente transmitia a imagem do seu nariz imperfeito. Nariz grande, algo que odiava ter herdado. Genética paterna.
Na noite passada caminhara pela praça japonesa que fora inaugurada no início do ano. Haviam montado uma imensa estrutura iluminada lembrando uma árvore natalina. Não podia negar. O hotel que gerenciava ficara ainda mais bonito com todas aquelas luzes, pelo menos seus clientes elogiavam a decoração.
Detestava natal, talvez pelo fato de ter se tornado um homem solitário. Preparar aquela árvore com enfeites natalinos trouxe uma profunda nostalgia.
Lembrara da casa de seus pais onde passara todos os natais de sua infância. Sua mãe, uma mulher bondosa fazia questão de preparar um banquete reunindo toda sua família, mesmo parentes distantes, era a única ocasião em que todos se encontravam. Sentira pela primeira vez a dor de perder alguém que realmente amasse. A pobre mulher morrera e nunca mais seu Natal foi o mesmo.
Comprara o pinheiro, as luzes, as bolas cintilantes, o velhinho simpático chamado Noel, tudo para receber a esperada visita. Há anos que vive sozinho num apartamento de homem solteiro. Tudo básico. A companhia mais agradável é a TV com seus duzentos e oitenta canais pagos mensalmente. Não escolhera viver desta forma, a vida quis assim; era confortante e ao mesmo tempo a forma mais covarde de encarar os fatos. Culpar um suposto destino.
Reviver o Natal é remexer no passado. Já estava acostumado à solidão.
Uma noite após o longo dia de trabalho, encontrou sob a mesa um bilhete grotesco de sua traiçoeira namorada. Namoro que durou um ano e sete meses.
Havia comprado queijo e vinho no trajeto de casa, tinha a intenção de ter uma longa noite de sexo – naquele momento amor – estava cansado da rotina. Percebeu que não era o único na relação que estava entediado. Ela se fora deixando um papel ridículo, com um recado ridículo e uma atitude ridícula. Depois de tudo o que havia feito naquela relação, o mínimo que esperava era uma despedida quente. Ilusão. Desde então não se apaixonou por ninguém e o máximo que tinha, eram umas escapadas com garotas de programa. Acreditava veemente nas suas necessidades masculina.
Recuperando-se de seu devaneio, cambaleou até a cozinha para certificar-se de que o pernil estava assado, o vinho estava na temperatura certa, e as luzes da árvore realmente estavam piscando. Visivelmente estava tudo pronto.
Foi até o lavabo, escovou os dentes, perfumou-se. Seu aspecto estava agradável. Esforçou-se para não sentir a absurda ansiedade, algo inevitável.
Resolveu apagar as luzes e espiar através da cortina, atitude patética pensou. Ficar tempo demais longe do convívio social faz as pessoas agirem como se estivessem saindo de uma caverna. Iluminou a casa novamente para não parecer abandonada. Olhou apreensivo o relógio. Odiava esperar, era realmente humilhante a tendência à ansiedade.
Voltando ao sofá, pegou o livro que tinha abandonado para as atividades daquela tarde, começou a ler. Inquieto percebeu que se passaram onze minutos do horário marcado.
Dirigiu-se a cozinha, aflito, abriu a garrafa de vinho, acendeu um cigarro mentolado, tragando com muita força. Sentiu uma leve calma. Bebeu, fumou. As horas foram passando, percebendo que não viria mais ninguém.
Sentiu vontade de vomitar, mas não fez. Sentiu-se a pessoa mais miserável do mundo. Natal, todas as famílias se reuniam e comemoravam, exceto ele. Deixara sua família e a cidade onde nascera para viver no litoral. Trabalhando oito horas diárias gerenciando um hotel, tinha um bom carro e um confortável apartamento. Decidira não sair do litoral, era perda tempo.
Conhecera uma mulher num bar próximo ao resort. Insinuava-se para ele como se fosse o único homem no local. Aproximou-se, tomaram um drinque. Fizeram sexo na mesma noite, ela usara sua camisa e preparou um café pela manhã. Sentiu que aquela companhia ajudou a inflar seu ego. Desde então decidiu conhecê-la melhor.
Mulher atraente, olhos castanhos profundos, batom vermelho fazendo sua boca parecer ainda maior. Qualquer homem a desejaria. E ele a desejou naquela noite, a desejou todas as noites. Algo em sua atitude denunciou e o fez sentir que suas palavras não pareciam verdadeiras quando prometera passar o Natal juntos. Ela não apareceu e sua intuição não o traiu.
Mais uma vez ficou sozinho, abandonado. Custou acreditar que o problema era com ele. Acendeu outro cigarro, abriu outra garrafa de vinho. Teria que aproveitar o pernil para o almoço no dia seguinte.
À meia noite, tirou a roupa formal que usara, deitou-se no chão e começou a refletir. Pensou que definitivamente não tinha sorte com mulheres e decidiu encerrar sua quota de decepções.
Na sexta- feira à noite, depois de encerrar seu expediente rotineiro, tomaria um banho gelado, compraria energético, cigarro mentolado, e freqüentaria uma boate GLS. Teria de fazer isso logo.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sorte (ASSALTO) - RELEXÕES

Demais contemplaria se a sorte estivesse ao meu lado. Logicamente tenho que agradecer todas as coisas boas que vêm acontecendo em minha vida. Estou viva! Respiro!
Claro que se amanhã eu descobrisse uma fortuna em minha conta bancária, evidentemente seria um desastre. O que para muitos representaria sorte, para mim seria sinônimo de azar (isola!).Se eu, pobre trabalhadora, já sou alvo de pessoas malévolas e insolentes que tarde não cansam de ganhar coisas ao meu suor, imaginem se eu impetrasse uma fortuna “A La Paris Hilton”!Ter sorte seria muito cômodo nessas horas. Sim, pois em toda a minha longa vida eu tive a sorte grande de ser roubada, assaltada por três miseras vezes. Inferno!
Isso me deprime.
Por que nesses momentos a tal sorte de repente não se transforma em véu e me isola desses mal-intencionados olhares impiedosos?
Estou cansada.
Se ter sorte significa nunca mais ver qualquer filho da puta arrancar de mim minhas conquistas sacrificantes, por favor, me doem mil litros, pois estou precisando.
Nessas horas torturantes em meio à voz de assalto, eu gostaria de ser altruísta para no mínimo trocar a maior ideia com o miserável, provar para o ordinário que eu sou tão pobre quanto ele. Seria até mesmo condescendente e lhe ofereceria um emprego.
Emprego? Para quê? É mais fácil roubar otária. Você trabalha e quem lucra sou eu!Francamente!
Pior ainda é o pós-assalto. Em minha cabeça, super, hiper, mega esdrúxula estacionam-se mil pensamentos do tipo: Ah se eu tivesse poderes!
Se eu tivesse poderes telepáticos, sem sombra de dúvida, só com a força do olhar, torceria o pescoço do infeliz até que ele passasse por todas as cores secundárias. Se ao menos eu fosse vampira! Incrível como Stephenie Meyer pulsa em minha mente nessas horas! Se pelo menos minha vida fosse de sua autoria, sem sombras de dúvidas eu seria uma vampira demasiadamente sanguinária, não pararia até drenar todo o sangue do ladrãozinho.
Entretanto...
Acordo e lá estou eu, na rua, indefesa, morrendo de medo e chorando.
Cadê meu pai? Oh tendência humilhante!
Agora pensem comigo, seria mais fácil se tivéssemos super poderes!
Eu endossaria se pudesse fazer a própria justiça, pelo menos tentaria proteger quem estivesse ao meu alcance. Chega de violência, chega de vandalismo.
Muitos se engasgam com escárnio ao pensar nessas literaturas consideradas fúteis e evasivas. Não para mim! Talvez haja maiores possibilidades de eu ver um Edward nos salvando de delinquentes do que ver nossa vida social, política, tipicamente humana se sobressaindo rumo à felicidade unanime idealista.

 
©2007 '' Por Elke di Barros